Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Parlamentares,

 À força da repetição pela mídia, certos conceitos, ainda que complexos, vão-se disseminando e fazendo parte do ideário da população.

Um desses conceitos, pisado e repisado em razão da realização da Copa do Mundo no Brasil, é o traduzido pelo termo “legado”.  Não que a população não o conheça. Conhece sim, e usa-o muito no contexto familiar, quando diz, por exemplo, que a educação é o maior presente que um pai pode dar a seu filho. A novidade é o largo uso que agora se faz do termo para significar herança social

Ora, herança social – o que a geração de hoje vai entregar à geração de amanhã, é variável dependente de herança individual – o que cada um faz pela geração a que pertence. Nesse sentido, os debates sobre o legado da Copa já têm, como primeiro legado, o despertar da consciência do cidadão brasileiro para a importância de sua ação dentro da sociedade e a compreensão de que o país que vamos entregar a nossos filhos é o que agora estamos construindo juntos.

O que se viu na rua foi bem mais que a cobrança pelo legado da Copa do Mundo em contrapartida aos gigantescos investimentos realizados.

O povo protestava, sobretudo, contra a precariedade dos serviços públicos, exigindo saúde, transporte, educação, segurança, medidas de austeridade no uso do dinheiro público, e combate à inflação, à corrupção, à criminalidade e violência.

A preocupação do povo, enfim, presente nos gritos da rua, era com o legado de governo: a inflação está de volta; o PIB está muito aquém do que o país precisa; a economia perdeu a capacidade de crescer;  as metas são ilusórias; a política fiscal, com a contabilidade criativa e a maquiagem das contas públicas, perdeu credibilidade; o nosso Ministro da Fazenda é alvo de críticas e chacotas, inclusive em publicações internacionais; não se dá importância à austeridade administrativa e os gastos públicos correntes crescem. São 39 ministérios e o governo não admite redução. Compromisso com aliado é mais importante que racionalização administrativa e austeridade com o dinheiro público. Não se cumpre a meta de superávit primário. As declarações oficiais são contraditórias e, não raro, atentam contra a credibilidade do Banco Central.

Existem problemas reais que devem ser reconhecidos e atacados.

Alegar que há campanha contra o governo e dar respostas de efeito apenas midiático é querer tapar o sol com a peneira.

É preciso coragem para assumir os erros e atitude para corrigi-los.

A preocupação é com o Brasil que está sendo construído hoje e que será legado amanhã aos nossos filhos. É preciso urgência nesta empreitada porque o hoje e o agora é a única chance do amanhã.