Publicação: 17/12/2013
Fonte: Jornal Estado de Minas 

A comparação com o cenário político-eleitoral de 2009 sugere mais cuidado com a leitura da situação que se verifica hoje

No país em que inúmeros torcedores de futebol também se consideram técnicos para decidir quem serão os 11 jogadores em campo, não é de se estranhar que haja tanto especialista em outro domínio: os resultados de pesquisas eleitorais.

Há uma diferença fundamental, entretanto. Enquanto a motivação para escalar o time nasce de uma legítima paixão nacional, a interpretação dos números dos institutos de opinião pública muitas vezes atende meramente à manipulação cometida por torcidas político-partidárias organizadas. Com o crescimento da relevância da internet e das redes sociais, o fenômeno virou corriqueiro e onipresente.

Faço essas considerações, pois, por mais óbvio que possa parecer, as pesquisas eleitorais deveriam servir sobretudo para que os cidadãos tivessem uma melhor compreensão das tendências em curso na opinião pública e nas intenções de voto. Entretanto, há um nítido esforço de propaganda para apresentar a candidata Dilma Rousseff praticamente como presidente vitoriosa nas próximas eleições. E no primeiro turno!

Em nenhum momento, os números frios permitem tirar essa conclusão. Basta comparar o cenário atual com o mesmo período de 2009, ano anterior à eleição de Dilma. Em agosto daquele ano, o Datafolha apontava Dilma em 2º lugar, com 16% das intenções, atrás do primeiro colocado, José Serra, com 37%. Atrás de Dilma vinham Ciro Gomes (15%) e Marina Silva (3%). O segundo semestre de 2009 apresentava, portanto, um quadro muito semelhante ao a tual. Basta trocar os nomes e as posições.

Um outro dado é importante. Em 2009, as pesquisas mostravam um forte desejo de continuidade. Hoje, mostram de mudança. Por outro lado, não é possível analisar o atual momento político sem levar em conta a acachapante presença na mídia, da qual Dilma dispõe com supremacia.

A presidente aparece como notícia todos os dias na televisão, rádios e jornais do país inteiro, pela natureza do cargo. Além disso, ela está em efervescente campanha desde o começo do ano, quando foi lançada à reeleição pelo ex-presidente Lula.

Toda a agenda do Palácio do Planalto foi colocada a serviço da candidata do PT. Com frequência, Dilma convoca cadeia de televisão para trombetear aspectos da sua gestão. Até o papa Francisco, que não tem título eleitoral no Brasil, foi obrigado a ouvir dela um longo discurso de autoelogio, quando visitou o Rio.

Com o mesmo espírito, Dilma tomou-se de amores por Minas Gerais e agora visita o estado com frequência. Menos pelo fato de ter nascido aqui. Mais por ser o estado que tem o segundo maior número de eleitores no país. Sua intimidade com o solo de Tiradentes, Juscelino e Tancredo é tanta que, em agosto, chamou de “prefeito de Porto Alegre” o atual de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, em solenidade pública.

Apesar do tamanho do rolo compressor de comunicação, a avaliação do governo Dilma continua em níveis muito baixos para um candidato à releição.

Rodrigo de Castro
Deputado Federal (PSDB/ Minas Gerais)